‘Todas as amizades são feitas de altos e baixos’.. Sempre
ouvi dizer e talvez seja verdade. No entanto, quando se trata de amizade no
verdadeiro sentido da palavra, não há baixos suficientes que sejam capazes de
desmoronar todos os momentos altos.
Há amizades que duram vidas e outras, que não passam de uma
mera confusão do conhecer ao ser amigo. É preciso saber estar presente, ocupar
o devido lugar, sem sufocar qualquer relação, dando espaço mas, em simultâneo,
dando a mão. É o saber ouvir, o ter um olhar amigo, um sorriso a transmitir,
uma palavra de carinho ou um pequeno gesto de conforto..
Se há coisa que a meu ver é capaz de destruir qualquer
relação é a discussão cerrada. A discussão dia após dia. É claro que por vezes
esta surge do nada mas, quando se torna repetitiva nada constrói, apenas
destrói. São ditas coisas que não deviam ser sequer pensadas.. Não se pede
desculpa, por orgulho, casmurrice ou porque apenas se olha para o próprio
umbigo. Lava-se roupa suja como se de um tanque da terrinha se tratasse. Diz-se
tudo o que vem à cabeça, sem medir o impacto que vai ter no outro. E é bom
quando a poeira passa e tudo volta ao que era mas, nem sempre é assim. Por
vezes a poeira assenta mas já se perdeu imenso. A cumplicidade, a partilha e,
sobretudo, o entendimento. Parece que tudo se transforma numa bola de neve em
que birra arrasta birra. O calor do outro torna a amizade em algo frio. Cá dentro,
quando se pára para pensar, é como se aos poucos e poucos fossemos perdendo
algo. Podemos ter tanto para dizer e por vezes silenciamos a falta que o outro
nos faz, a saudade pequenina e o quanto queríamos que tudo voltasse. Ou que os
ponteiros do relógio voltassem atrás e nada tivesse acontecido.
Por vezes ignoramos e tentamos dar a volta. Esquecer o que
ficou para trás. Mas, a meu ver, perdoamos mas não esquecermos assim.. Há
coisas que mesmo ditas da boca para fora acabam por tocar, por magoar.. E por
ficar. Podes dizer a ti própria que está tudo bem, que não foi nada, que já
passou.. Mas lá no fundo há sempre aquele buraquinho agora incompleto. A
desilusão pequenina, o sorriso triste, a preocupação, o medo.. Podemos chegar a
casa cansados, saturados do dia que tivemos, podemos não ter paciência para
nada nem para ninguém.. Mas, não devemos descarregar no outro as frustrações e
preocupações, não devemos debitar palavras como quem debita a tabuada, não
devemos deitar tudo cá para fora, o que sentimos, o que não sentimos.. Para quê
complicar e dizer o que se sente quando não se sente ou fazer o que não se quer
quando se quer..?
Se as amizades são feitas de altos e baixos,
que venham os
momentos altos porque a saudade começa a apertar.. *
Que venham os sorrisos, as brincadeiras sem fim..
Que venham as palavras, os gestos e a cumplicidade..