Passam-lhe pela visão, mesmo que seja apenas em recordação, imagens muito suas, muito sentidas. De tão sentidas que eram, o corpo cedia de tal maneira que, por vezes, parecia estar mesmo num mundo à parte. Se havia coisas que a assombravam eram os filmes de terror, as imagens de tiroteios, o imaginar-se sequer em funerais, apesar de o cumprimento de certos rituais e a presença em determinados locais nem sempre lhe meter confusão. Mudava de canal assim que via alguma coisa relacionada com morte.. Com perda.. Com corpos gélidos, pálidos, sem vida mas imersos de recordações.
Agora, todas as noites, quando cai o sol lá fora e aparecem as estrelas no céu, relembra aquela silhueta envelhecida pelo tempo e aquele coração tão bondoso, tão único, tão especial.. Quando a luz cai lá fora, todas as noites fecha aos olhos visualizando sempre a mesma imagem.. O mesmo dia.. O dia em que ele partiu.. Aquele momento que venha o que vier, passe o tempo que passar, guardará para sempre em si. Mas hoje, não tem medo de fechar os olhos e de relembrar as imagens antigas, pois, sejam elas quais forem, são aquelas imagens e sobretudo aquela presença que a tornam tão forte de dia para dia, que a tornam menos só. Porque, esteja onde estiver, olha o céu e, se de noite, vê a Sua estrela. Mais brilhante do que nunca. Se de dia, olha para cima e vê o sorriso dele a espreitar por entre os raios de sol.. Hoje, onde quer que vá, seja dia, seja noite, nunca vai só..
(E relembro o sorriso do avô ao vir ao longe, pela praia, na nossa direcção..
E relembro-o ali.. A tocar.lhe no seu coração..)
Já lá vão três meses.. Apesar de haver locais e palavras ainda proibidas, levo-o comigo para onde quer que vá.
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