A frase mais aguardada dos últimos meses: Até já, minha querida Albufeira!
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Cheirava a hospital.. O corredor estava a meia luz.. Mas ele vinha ao fundo com um ar diferente de todos os outros.. Parou por instantes e ouviu-se, em tons de dificuldade, um "Obrigado por tudo".. O sangue gelou e veio uma lágrima ao olho. Afinal, vale sempre a pena!
(Tríste, é quando chega a hora da despedida.)
domingo, 26 de agosto de 2012
Nunca ~
« Bato a porta devagar,
Olho só mais uma vez
Como é tão bonita esta avenida...
É o cais. Flor do cais:
Águas mansas e a nudez
Frágil como as asas de uma vida
Olho só mais uma vez
Como é tão bonita esta avenida...
É o cais. Flor do cais:
Águas mansas e a nudez
Frágil como as asas de uma vida
É o riso, é a lágrima
A expressão incontrolada
Não podia ser de outra maneira
É a sorte, é a sina
Uma mão cheia de nada
E o mundo à cabeceira
A expressão incontrolada
Não podia ser de outra maneira
É a sorte, é a sina
Uma mão cheia de nada
E o mundo à cabeceira
Mas nunca
Me esqueci de ti
Não nunca me esqueci de ti
Eu nunca me esqueci de ti
Não nunca me esqueci de ti.. »
Me esqueci de ti
Não nunca me esqueci de ti
Eu nunca me esqueci de ti
Não nunca me esqueci de ti.. »
Ser fisioterapeuta ..
E se há alturas em que uma das poucas certezas que tenho é que estou no curso certo, a aprender aquilo que gosto, a lidar com aquilo que quero e a vivenciar e actuar perante aquilo que me deixa concretizada, há alturas em que surge um grande ponto de interrogação perante todos estes ideais.
Por vezes sinto-me tão pequenina ao lado da imensidão dos problemas dos outros, que não sei mesmo se algum dia vou conseguir fazer parte da solução de alguns deles..
A recompensa acredito que supere tudo e te encha de ânimo para continuar e, acima de tudo, te deixe repleto de felicidade por ver alguém também feliz.. Por saberes que estás a dar um sorriso a um filho, uma esperança a uma mãe, um passo em frente na felicidade (por vezes abandonada ou esquecida) de uma família. Mas, por vezes também remói bem cá dentro.. É o estares atento a cada milímetro de dorsiflexão plantar, se cada movimento impreciso te causa ou não uma breve flexão do joelho, se consegues fazer um apoio de calcanhar preciso, se no dia seguinte consegues fazer uma transferência de peso mais concreta, se uma semana depois consegues dar um passo na imensidão do ginásio vazio.. É o fixares-te em milésimos de movimentos, em músculos, articulações, ossos, ligamentos e tendões que nem sempre reagem como tu queres, com a rapidez e eficácia com que tu queres. É o conseguires controlar o teu movimento mas o teres uma dificuldade tremenda em controlar o movimento descontrolado do outro.. É o lidares de perto com o desânimo, a angústia, a frustração.. O abandonares de todas as técnicas e dedicares sessões à conversa, o dares a mão, o teres um colo pronto a amparar qualquer desalento.
Ficas com a lágrima no olho, sentes também tu a frustração na pele, o não teres conseguido desta vez.. Até que, no dia seguinte, te podes deparar com uma força enorme vinda nem tu sabes bem de onde, se de todo o aglomerado de músculos e forças instrínsecas, se vinda de algo mais interior.. E aí, é a lágrima no olho por sentires que milímetros de extensão do tronco durante um simples exercício lhe permitem alcançar a tua testa, o aguentar dos membros superiores contra a gravidade que lhe permitem contornar o teu pescoço e o aumento induzido da flexão do tronco fazem com que encoste os seus lábios na tua testa, deixando um gesto de agradecimento.. São as lágrimas nos olhos por, minutos depois, conseguires ir mais além na extensão do tronco, teres força para amparar o outro, conseguires-te erguer e ajudar a erguê-lo e vê-lo chorar de felicidade ao deambular pelo ginásio..
É a sensação de dever cumprido. Cumprido, por hoje. E a sensação de que muito poderá vir, amanhã..
Há sorrisos e gestos que nos enchem a alma e nos fazem sentir completamente preenchidos!
(...)
« A caixa era branca e transparente, normalíssima. De lá de dentro saíram livros antigos, uns postais ilustrados, um álbum de fotografias. Abri-o. Encontro as raízes que o tempo levou, os primórdios envolvidos por meias de renda, casaquinhos de croché bordados com amor, e lencinhos na cabeça a resguardar o sol da cabeça da menina. O avô pega-lhe ao colo e olha-a embevecido. O cão espreita lá atrás, provavelmente abanava o rabo, muito embora o retrato não permita grandes dinamismos. Sigo e cresce. Nos meandros surgem a prima e a mana, e as raízes envelhecem, emagrecem, definham e adoecem, devagar, devagarinho. Lá mais para o final já há mais primos, haviam mais netos. Ao fundo, numa delas, vê-se o santuário de Fátima, certamente rezava-se por um mundo e uma vida melhor. Noutra, encostada a uma oliveira, cheirava-se uma azeitona que provavelmente deu azeite. Duas primas encostadas com a Torre Eiffel em pano de fundo estão estranhas, vestem umas roupas largas e coloridas com uns sapatos cremes e umas meias brancas. O primo entretanto também cresceu e já nem parece aquele menino magro e enfraquecido dos primeiros retratos do álbum verde. O outro perdeu os caracóis, e a menina já não veste xadrêz com malhas. A mãe tem menos cabelo, o pai nem se fala. Lá para o meio surge um gato impossível de esquecer e um avô que durou para além da normalidade e em estado de boa saúde. Tinha uma samarra, uma veste típica lá na serra. A última página tem os netos todos em diversas fases da vida, que entretanto continuou. Ninguém apagou os traços e todos estão na memória. Os retratos ajudam ao pormenor, pequenos nadas que sabem a doce de tomate e a feijão regado com azeite e sal miudinho por cima. Uma delícia, apenas equiparada a coscorões de massa lêveda, altos e fofos na mesa do Natal. Ele há coisas que são eternas, e as fotografias em papel são uma grandeza do mundo passado, arruinada pelo mundo presente. Não se admite, não se pode admitir.. »
Se há pessoa que me faz falta: ele, é a principal!
(L'
« Os momentos e as coisas dependem das nossas escolhas e das nossas avaliações. Ontem alguém me dizia que o problema da sua vida era pensar com o coração. Não me parece de todo que isto constitua um problema. Se partimos de uma linha recta para analisar os sentimentos, encontramos qualquer coisa semelhante a isto: O coração sente, nós deixamos, agora ou depois, e chegamos lá, ou pelo menos soltamos a alma, deveremos sempre conseguir soltá-la. No outro lado: O coração sente, não o escutamos, deixamo-lo de lado, é fraco. Potenciamos a razão e continuamos em busca de conciliação. Parece-me isto, não sei. Sem lutas, claro, mas um a zero, ganham vocês. Porque vivem e porque descobrem. »
« Podes vir a qualquer hora
Cá estarei para te ouvir
O que tenho para fazer
Posso fazer a seguir.. »
Cá estarei para te ouvir
O que tenho para fazer
Posso fazer a seguir.. »
♥
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Porto Côvo
E ontem, ao ouvir Rui Veloso a cantar a música de alguém que comia uma laranja na falésia, deu uma nostalgia. Como adoro este pedaço de terra, como sinto falta da magia a ele inerente, toda aquela beleza natural, todas aquelas lendas que vagueiam e tornam aquele sítio tão mítico.
Até tive saudades da melhor Geladaria que alguma vez vi, todas os comerciantes de rua, que se recolhem de dia e voltam à noite.
Corpo estava cá no norte, mas a Alma, ontem, vagueou mais para o sul!
http://www.youtube.com/watch?v=e5y76p4ksm8
Quando se deixa de ajudar os outros, por por não saber se isso traz boas consequências para si próprio...
Quando se deixa de procurar o horizonte, por medo...
Quando se deixa de fazer simples coisas do dia, não ter a certeza se se consegue...
A isto chama-se covardia. E de gente covarde, está este pais cheio!
terça-feira, 21 de agosto de 2012
domingo, 19 de agosto de 2012
Faz parte
...assumir opiniões e pontos de vista, sem nos mascararmos em falsos pseudónimos e máscaras virtuais.
Dar a cara na defesa do que achamos certo e na refutação do que é errado, também faz parte...ou deveria fazer!
sábado, 18 de agosto de 2012
"O ser humano, adotou a moda de copiar as personagens de novelas, acham que é engraçado imitar o tom irónico que os atores tantas vezes representam, o problema é que esta ironia exige dom e a pseudo ironia é tão irritante, tão desprezível, que se fica a pensar se devemos ou não dizer que a tentativa foi falhada e que não deverá repetir sob o risco de voltar a fazer figuras menos apropriadas. É isso, ou tentar falar e escrever com palavras, muitoooo caras, quando não se tem a certeza do significado, da sua dicção e das letras que se devem dizer. Vale mais a simplicidade de uma frase a erros, em palavra sim, palavra sim. Ainda bem que agora o novo acordo ortográfico surgiu, é uma bela desculpa para se justificar do que realmente não se sabe.
Outra coisa que se encontra muito em voga, é o falso vitimismo, aquele do "Estou triste, estou mal, mas não quero falar!". Quanto a isso, não há nada a dizer. Todas as palavras do mundo são poucas, para mostrar a minha intolerância.
Pergunto-me, mas se a sociedade, quer tanto parecer-se com o que na realidade não se é, quer tanto mascarar os seus "Tendões de Aquiles" culturais, sociais e pessoais, porque não investe todo esse snobismo artificial em tentar ser-se melhor."
« Tantas vezes, tantos dias
Por causa de temosia
Nós perdemos a vontade
De ouvir outra verdade
Por causa de temosia
Nós perdemos a vontade
De ouvir outra verdade
De deixar entrar o ar
Só pensando em acabar
Mesmo que fiquemos sós
Ouve-se do cais uma voz
Perguntar se temos nós
A certeza de voltar
Porque com tanta destreza
Nos esquecemos sobre a mesa
Das cartas de marear.. »
Só pensando em acabar
Mesmo que fiquemos sós
Ouve-se do cais uma voz
Perguntar se temos nós
A certeza de voltar
Porque com tanta destreza
Nos esquecemos sobre a mesa
Das cartas de marear.. »
Vamos vivendo os nossos dias julgando que, o fazemos da melhor maneira ou daquela que nos deixa mais feliz naquele momento. Ou, pelo menos, assim deveria ser.. Vamos estando com aquelas pessoas que mais nos dizem, que mais nos cativam e mais nos completam. E esperamos que seja assim a vida toda. No entanto, tempos depois, olhamos para o agora e vemos que fomos perdendo alguns dos "pedaços" importantes pelo caminho.. Houve coisas e pessoas que foram ficando para trás.. Não sabemos muito bem o porquê. Não nos chateámos, não tivemos qualquer motivo para deixar de falar, não ficámos de costas voltadas.. No entanto, agora, não as conseguimos olhar de frente ou mal temos essa possibilidade porque, apenas nos cruzamos com elas na rua por acaso, apenas as vimos a sair de qualquer chat de conversação por acaso e, será também um acaso se não tivermos tido um problema no telemóvel que tenha apagado o seu número. Recordamos tudo o que fomos e podemos mesmo tentar voltar a ser. Mas, corremos o risco de ter que assumir as consequência de nem sempre ter dado a devida importância e partilhado o devido tempo. Corremos o risco de olhar para o lado e aquela pessoa não estar lá, pelo menos, da forma que estava. Meter mãos à obra e tentar recuperar o tempo perdido, mas tudo no tempo presente ser diferente e aquela pessoa fazer parte de um outro presente..
Porque o tempo dificilmente se recupera por completo e as pessoas, não são apenas "pedaços" para se poderem recuperar.
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Nada me põe mais triste, do que magoarem as pessoas que eu amo, principalmente quando é um magoar gratuito, sem razão e injusto. Observar os olhos da "nossa" pessoa, ver a tristeza, a desilusão e não poder fazer nada, saber que o nosso abraço não vai tirar menos peso, não vai fechar as feridas, nem anestesiá-las. É uma sensação de impotência, uma revolta tão grande, que queima o nosso peito, que nos obriga a reprimir um grito agudo, que nos tira o sono e a fome.
A injustiça das palavras azedas que se atiram a quem menos merece, queima mais que azeite a ferver.
Prefiro uma bofetada em cada lado da minha face, do que o silêncio que a tristeza provoca a alguém que eu amo, como todas as minhas forças.
terça-feira, 14 de agosto de 2012
Deveria haver uma linha que separasse...
...o "faz-me isto" do "faz-me isto, se faz favor";
...o "vê isto" do "vê isto, sff";
...o "ajuda-me nisto" do "ajuda-me nisto, sff";
e por aí fora. É a ideia continua a ser sempre a mesma. -.-'
...o "vê isto" do "vê isto, sff";
...o "ajuda-me nisto" do "ajuda-me nisto, sff";
e por aí fora. É a ideia continua a ser sempre a mesma. -.-'
«Era uma vez um rapaz chamado João que
vivia em Chora-Que-Logo-Bebes, exígua aldeia aninhada perto do Muro
construído em redor da Floresta Branca onde os homens, perdidos dos
enigmas da infância, haviam instalado uma espécie de Parque de Reserva
de Entes Fantásticos.»
A distância entre as duas margens não era grande e João Sem medo morria de fome. Não hesitou, pois. Despiu-se e com a trouxa de roupa à cabeça penetrou no líquido esverdeado de limos, crente de que alcançaria facilmente a nado o laranjal apetecido. Mas aconteceu então este fenómeno incrível: à medida que o nadador se aproximava da outra margem, a água aumentava de volume e a lagoa dilatava-se. Por mais esforços que despendesse para fincar as mãos na orla do lago, só encontrava água, água unicamente. A terra afastava-se.
- Bonito! Estou dentro dum lago elástico – descobriu João Sem Medo, esbaforido. Mas fiel ao seu sistema de persistência enérgica não renunciava ao combate. As margens desviavam-se, mas o rapaz nadava, nadava sempre, com confiança plena nos seus braços, na força de vontade e no desejo de vencer.
- Eh!, alma do diabo, sofre! – instigou-o por fim uma onda a deitar os bofes de espuma pela boca fora. Um peixe insurgiu-se com voz mole:
- Assim não vale! Vê se acabas com isso. Eu e os meus camaradas peixes queremos dormir em sossego. Vamos, chora! Uma gaivota baixava de vez em quando para lhe insinuar, baixinho:
-Então? Torna-te infeliz. Soluça. Berra. Chora. Lembra-te que seguiste o Caminho da Infelicidade. Não faças essa cara de quem ganhou a sorte grande.
Por último, uma coruja de mitra pequenina na cabeça e venda nos olhos – para voar de dia e de noite em perpétua escuridão – segredou-lhe ao ouvido:
- Queres laranjinhas? Ouve a minha sugestão: representa a comédia da dor. Finge que sofres muito, sê hipócrita. Mente. Pede a esmolinha de uma laranja por amor de Deus. Vá! Não sejas tolo. Chora.
Como única resposta, João Sem Medo repeliu a coruja, fez das tripas coração e desatou a cantar à sobreposse. Então, ao som do seu canto, por fora tão vibrante e viril, a fúria das águas amainou. O rugir das ondas amorteceu lentamente. Um murmúrio de desistência soprou pela superfície do lago. E João Sem Medo, com algumas braçadas vigorosas e seguras, logrou pôr o pé em terra perto do laranjal carregado de pomos de ouro.
Claro, correu logo como um doido para a árvore mais próxima, sôfrego de engolir meia dúzia de laranjas. Mas, num lance espectacular, os frutos diminuíram rapidamente de volume até atingirem o tamanho de berlindes e– zás! – com um estoiro despedaçaram-se no ar. Humilhado, e a contar com uma nova surpresa desagradável, abeirou-se de outra laranjeira. Desta vez, porém, as laranjas transformaram-se em cabeças de bonecas doiradas e deitaram-lhe a língua de fora.
- A partida anterior teve mais graça! – observou João Sem Medo. E dirigiu-se para uma tangerineira com a vaga esperança de apanhar uma tangerina desatenta. Isso sim. Mal o avistaram, os frutos caíram dos ramos como bolas de borracha e espalharam-se na paisagem. Então, numa tentativa suprema, João Sem Medo acercou-se de outra árvore, sorrateiramente, em bicos de pés. Tudo inútil. Como se estivessem combinadas, as laranjas e as tangerinas do pomar desprenderam-se dos troncos, abriram pequeninas asas azuis e começaram a subir serenamente no céu.
Apesar da fome, João Sem Medo, com os olhos fixos no espectáculo maravilhoso das bolas de ouro a voarem, não pôde reprimir este clamor de entusiasmo, braços erguidos para o ar:
-Parabéns, Mago. Parabéns e obrigado por este instante, o mais belo e bem vivido da minha vida. Obrigado. Mas agora ouve o que te peço: desiste de me perseguir. Convence-te de que, para mim, a felicidade consiste em resistir com teimosia a todas as infelicidades. E vai maçar outro. Ouviste? Vai maçar outro.»
José Gomes Ferreira, Aventuras de João Sem Medo
A distância entre as duas margens não era grande e João Sem medo morria de fome. Não hesitou, pois. Despiu-se e com a trouxa de roupa à cabeça penetrou no líquido esverdeado de limos, crente de que alcançaria facilmente a nado o laranjal apetecido. Mas aconteceu então este fenómeno incrível: à medida que o nadador se aproximava da outra margem, a água aumentava de volume e a lagoa dilatava-se. Por mais esforços que despendesse para fincar as mãos na orla do lago, só encontrava água, água unicamente. A terra afastava-se.
- Bonito! Estou dentro dum lago elástico – descobriu João Sem Medo, esbaforido. Mas fiel ao seu sistema de persistência enérgica não renunciava ao combate. As margens desviavam-se, mas o rapaz nadava, nadava sempre, com confiança plena nos seus braços, na força de vontade e no desejo de vencer.
- Eh!, alma do diabo, sofre! – instigou-o por fim uma onda a deitar os bofes de espuma pela boca fora. Um peixe insurgiu-se com voz mole:
- Assim não vale! Vê se acabas com isso. Eu e os meus camaradas peixes queremos dormir em sossego. Vamos, chora! Uma gaivota baixava de vez em quando para lhe insinuar, baixinho:
-Então? Torna-te infeliz. Soluça. Berra. Chora. Lembra-te que seguiste o Caminho da Infelicidade. Não faças essa cara de quem ganhou a sorte grande.
Por último, uma coruja de mitra pequenina na cabeça e venda nos olhos – para voar de dia e de noite em perpétua escuridão – segredou-lhe ao ouvido:
- Queres laranjinhas? Ouve a minha sugestão: representa a comédia da dor. Finge que sofres muito, sê hipócrita. Mente. Pede a esmolinha de uma laranja por amor de Deus. Vá! Não sejas tolo. Chora.
Como única resposta, João Sem Medo repeliu a coruja, fez das tripas coração e desatou a cantar à sobreposse. Então, ao som do seu canto, por fora tão vibrante e viril, a fúria das águas amainou. O rugir das ondas amorteceu lentamente. Um murmúrio de desistência soprou pela superfície do lago. E João Sem Medo, com algumas braçadas vigorosas e seguras, logrou pôr o pé em terra perto do laranjal carregado de pomos de ouro.
Claro, correu logo como um doido para a árvore mais próxima, sôfrego de engolir meia dúzia de laranjas. Mas, num lance espectacular, os frutos diminuíram rapidamente de volume até atingirem o tamanho de berlindes e– zás! – com um estoiro despedaçaram-se no ar. Humilhado, e a contar com uma nova surpresa desagradável, abeirou-se de outra laranjeira. Desta vez, porém, as laranjas transformaram-se em cabeças de bonecas doiradas e deitaram-lhe a língua de fora.
- A partida anterior teve mais graça! – observou João Sem Medo. E dirigiu-se para uma tangerineira com a vaga esperança de apanhar uma tangerina desatenta. Isso sim. Mal o avistaram, os frutos caíram dos ramos como bolas de borracha e espalharam-se na paisagem. Então, numa tentativa suprema, João Sem Medo acercou-se de outra árvore, sorrateiramente, em bicos de pés. Tudo inútil. Como se estivessem combinadas, as laranjas e as tangerinas do pomar desprenderam-se dos troncos, abriram pequeninas asas azuis e começaram a subir serenamente no céu.
Apesar da fome, João Sem Medo, com os olhos fixos no espectáculo maravilhoso das bolas de ouro a voarem, não pôde reprimir este clamor de entusiasmo, braços erguidos para o ar:
-Parabéns, Mago. Parabéns e obrigado por este instante, o mais belo e bem vivido da minha vida. Obrigado. Mas agora ouve o que te peço: desiste de me perseguir. Convence-te de que, para mim, a felicidade consiste em resistir com teimosia a todas as infelicidades. E vai maçar outro. Ouviste? Vai maçar outro.»
José Gomes Ferreira, Aventuras de João Sem Medo
domingo, 12 de agosto de 2012
Se há coisa que me acalenta o coração, me faz sentir realmente feliz é presentear os meus amigos, fazê-los sentir especiais, arrancar-lhes um sorriso. Um sorriso de um amigo é uma daz maiores dádivas de Deus e estes são cada vez mais escassos.
A vida não é só um monte de palavras e frases, são as ações...as nossas ações, que podem fazer a diferença para alguém e se esse alguém, for-nos realmente proximo, vamos perceber que afinal não demos, recebemos e muito.
E para ti, minha irmã, eu dou e darei muito, porque tu és uma aposta ganha, a tua amizade é uma das maiores dádivas e riquezas que alguém possa ter.
Obrigada por tudo*
Muitos Parabéns e que a felicidade seja uma rotina para ti!!
sábado, 11 de agosto de 2012
coisas que mexem bem cá dentro .
E hoje o coração bateu bem acelerado.. O percorrer os corredores do hospital, o entrar na pediatria e ver aquele quarto, aquela capa, aqueles corredores, aquele refeitório, os enefermeiros e enfermeiras que se mantinham os mesmos apenas com mais meia dúzia de cabelos brancos e o peso de quase mais dez anos de idade.. Foi o friozinho na barriga e o nervosismo e o suor a percorrer o corpo ao entrar nos cuidados intensivos pela primeira vez.. O ouvir dos alarmes dos monitores, o ter que prestar atenção a saturações, dessaturações, pressão arterial, frequência cardiaca, frequência respiratória.. O fazer e o ver, o mobilizar e o olhar.. Eram pessoas em coma, pessoas com pouco tempo de vida, pessoas que provavelmente daqui a uns dias irão conseguir recuperar.. E, enquanto isso, era o ouvir como som de fundo « We will be victorious.. »..
A fisioterapia respiratória é mesmo qualquer coisa de extraordinária!
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
terça-feira, 7 de agosto de 2012
"O que mais dói é a subfelicidade. A felicidade
mais ou menos, a felicidade que não se faz felicidade, que fica sempre a
meio de se ser. A quase felicidade. A subfelicidade
não magoa – vai magoando; a subfelicidade não martiriza – vai
martirizando. Não é intensa – mas é imensa; faz gritar, sofrer, saltar,
chorar – mas em silêncio, em surdina, em anonimato. Como se não fosse.
Mas é: a subfelicidade é. A subfelicidade faz-te ficar refém do que tens
– mas nem assim te impede de te sentires apeado do que não tens e
gostarias de ter. Do que está ali, sempre ali, sempre à mão de semear – e
que, mesmo assim, nunca consegues tocar. A subfelicidade é o piso -1 da
felicidade. E não há elevador algum que te leve a subir de piso. Tens
de ser tu a pegar nas tuas perninhas e a subir as escadas. Anda daí.
(...)"
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
,*
« São giras as nossas memórias, perco-me com elas. Não nos surgem vindas do nada, têm implícito um critério rigoroso sobre o qual nem pensamos por vezes. Parecem mortas e enterradas mas de repente voltam a nascer como se sempre tivessem estado vivas dentro de nós, o que não deixa de ser uma verdade. Podem emergir de um sussurro, de uma coisa que cheiramos, de uma pessoas que vemos. E é ai que voltamos. A viver, a cheirar, a ver, a tocar. Porque para tocar e ao contrário do que muitos julgam, não são precisas mãos, são precisas vontades. Eu por exemplo, consigo tocar em muitas coisas ou pessoas que já se foram apenas com o meu coração. Há outras nas quais não me apetece pôr o corpo e por isso deixo-as mais ao lado. Passam por mim assim como que uma névoa, fugazmente, mesmo que algum chamariz as atice em insistência. Não gosto muito que interfiram com as minhas memórias. Não aprecio que me mandem esquecer o que me construiu, e que guardo ou não guardo, depende de mim. Por isso nunca permito que me digam esquece isto ou esquece aquilo. É uma ordem egoísta e profundamente ignorante. Quem sabe qualquer coisa, ainda que pouca, de gente e de pessoas sabe o quanto essas palavras são vãs e impróprias. Vãs porque não podem ser obedecidas apenas porque algum agente externo o pretende, impróprias porque indicam um caminho triste e sinuoso. Não posso nunca esquecer as minhas memórias, pelo menos as significativas, sejam elas boas sejam elas más. Morro de medo de perdê-las, arrisco dizer, e há muito que peço a Deus que em caso algum mas leve com ele. Nesse dia, e se ele chegar, toda eu morro com elas. E morrer em vida não é de todo a morte com que sonho para mim. »
Já se passaram tantos momentos.. Uns melhores, outros menos bons, mas, nunca se esqueceu a amizade.. Por vezes, há que deixar acalmar o coração, deixar os ponteiros do relógio correrem livremente e, mais cedo ou mais tarde, o que tiver que acontecer acontece. Sem grandes pressas, sem grandes insistências.. Quando olhamos para trás, vimos que de nada vale fazer grandes espalhafatos.. Um dia tudo muda. Ou se perdoa, ou se vai deixando apenas por entre memórias do passado, ou volta, ainda mais forte.. :')
« Como se esquece? Devagar.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar. »
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar. »
(Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume')
domingo, 5 de agosto de 2012
Goodbye Norma Jean!
Foi à 50 anos que a estrela mais brilhante de sempre, partiu! Mas o seu brilho mantém-se.
"Eu sabia que eu pertencia ao público e ao mundo, não pelo fato de ser
talentosa ou até mesmo bonita, mas porque eu nunca pertenci a nada ou a
ninguém"
A maior de todas as Divas!!
http://www.youtube.com/watch?v=w-M8Hi3vNKM
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Porque a mim não me interessa uma vida comandada, por generais alheios, prefiro erros meus do que certezas dos outros. A caminhada da vida deve ser feita por quem a vive, os empurrões que damos e recebemos são da nossa responsabilidade e a mão que estendemos são nossa opção. Eu vivo à minha maneira, aproveito à minha maneira.
Como o meu professor de anatomia uma altura me disse: Uma vida em que não nos dedicamos aos outros, não merece ser vivida. Que assim seja.
Eu escolherei os outros, eu escolho a dedicação que lhes dou.
http://www.youtube.com/watch?v=Aht9hcDFyVw
Porque, no fundo, tudo aquilo de que precisas é um corpo para
respirar e um mundo para viver. Pode ser uma merda, pode não valer a
ponta de um corno. Mas é o mundo: o teu mundo. Aproveita-o. E respira.
Até que te falte a respiração.
Pedro Chagas Freitas
Já não é a primeira vez que coloco esta frase, mas pela sua força e pela mensagem que nos deixa, merece ser partilhada infinitamente.
Que seja ponto assente, que no meu mundo, no meu corpo, na minha vida quem respira sou eu, quem controla sou eu, que dita as regras e os limites, mais uma vez sou eu e que NINGUÉM, pense que eu sou irmã do televisor, para ter um controlo remoto associado, em que so mostro oq ue os outros querem ver, e só aparecem as pessoas que lhes convém.
Quando nascemos, devíamos todos vir com um letreiro a dizer: Esta vida é minha, se queres mudar alguma coisa, muda em ti, olha para ti e para o raio do teu umbigo e deixa-me em paz.
Não suporto, ão admito e abomino qualquer pessoa que tente instaurar deveres e regras sobre a minha pessoa, até hoje sempre lidei com quem quis, fiz muitas escolhas certas ou erradas e o resultado, tem sido positivo, bem acima da média, portanto, como diria a minha avó: Metam a viola no saco, e metam-se na vossa vida.
Tenho dito e desabafado.
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
« so… as far as History
goes, we all have our own each little guide in history line and i think that
sometimes when a bunch of stuff happens to you, you might think that your
history line is sort of premeditated or destined to do this one thing and that
one thing might feel like it’s trapping you down, might not be an exciting line
all the time.
but some things, we can make some certain decisions and certain things happen, that if you allow them to happen and you notice them happening, they can change the course of your history. and when they’re for the better, it’s a sacred thing. »
but some things, we can make some certain decisions and certain things happen, that if you allow them to happen and you notice them happening, they can change the course of your history. and when they’re for the better, it’s a sacred thing. »
E começou assim mais uma etapa! :')
Que o próximo mês seja acima de tudo gratificante com muitas próteses de joelho a correrem pelos corredores :P
Os nossos adolescentes
E cada vez mais me surpreende esta inversão de realidades.. Se um adolescente se levanta bem cedo, pela manhã, para ir correr ou caminhar, é tido como idiota porque as manhãs são para dormir.. Se tem que acordar para ajudar os pais ou os avós em plenas férias, é tido como um coitadinho.. Se à noite gosta de ler meia hora, é porque não deve ter mais nada de interessante para fazer.. Mas, se fica no chat do facebook até de madrugada, é tido como super sociável, se sai e passa a noite acompanhado de meia dúzia de copos de cerveja, é bué fixe e se no dia seguinte exibe com todo o gosto no facebook para quem quiser ver as fotos da noite anterior com os cantos dos lábios manchados de preto (segundo a minha mãe teria estado a comer uma tabelete de chocolate preto) com um copo de vodka na mão e fica a manhã toda com a cabeça enfiada na almofada e a curar a ressaca, é muito à frente, é fantástico, é motivo para mil e um comentários, outros tantos 'gosto' e aquela fantástica ressaca é pretexto para conversa durante dois ou três dias, como se fosse um grandioso gesto humano.
Provavelmente estarei a ficar velha, mas, só de pensar como serão estes adolescentes (sim, porque a maior parte deles nem na idade dita adulta entraram) daqui a meia dúzia de anos, fico assustada.
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