« Dezembro é, e tal como Agosto, aquele mês em que as pessoas vivem. Soltam os tempos presos na pele, guardados na penumbra da espera ansiosa por umas horas perfeitas, que se idealizam por entre os desperdícios dos dias que passam parados em corpos desatentos. Gostamos de olhar de soslaio para as pessoas que correm à nossa volta, de as passajar ao de leve e à distância de um telefonema apressado, de as saber bem e de saúde num desvio imposto pelo cansaço imperfeito que nos come a paciência e nos faz adormecer, todos os dias à mesma hora, com a cabeça deitada em arrumações solitárias. Dormimos sobre o assunto ou sobre outra coisa qualquer, acordamos no outro dia com o entorpecimento igual ao da véspera, arrumamos o rosto ao espelho, abrimos as janelas que nos acordam por fora e descemos as escadas que nos ligam ao mundo, para hibernamos uma e outra vez, guardados até aos dias em que escolhemos viver. Normalmente em Dezembro, tal como em Agosto, vive-se. Descerram-se os corpos aflitos, sorvem-se os licores de um só trago, enfartam-se os estômagos e fervem-se os afectos abandonados nas lareiras que crepitam ao som da música do natal. Na hora marcada abrem-se os embrulhos e afagam-se os ânimos despertos, bebe-se um digestivo e arruma-se a casa, a mesa e o corpo, que espera, já quase adormecido, o Reveillon.
( Gosto de Dezembro, o mês do frio. Gosto de Agosto, o mês do calor. Gosto de todos os dias e de todas as horas, e gosto dos instantes que me fazem gente. Não aprecio corridas ou excessos, nem vidas com hora marcada. Às vezes, muitas vezes, também eu corro demais.) »
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