terça-feira, 2 de novembro de 2010

A ilusão do sonho


« Chamavam-lhe o Jardim do Encanto, talvez por ser um dos mais belos jardins daquela zona ao ter lindas flores e lagos. A primeira vez que lá fui, senti-me livre e, na realidade, foi das melhores sensações da minha vida, como se nada mais existisse à minha volta. Passei a visita-lo mais frequentemente… Colhia flores, dava comida aos animais, corria pelos caminhos, passeava, deitava-me na relva a ver as pessoas a passear os seus animais ou a ver as nuvens com os seus belos desenhos abstractos… Vivi nesse jardim maior parte dos meus tempos livres. Conheci novas pessoas de todas as idades e com as quais compartilhava a minha felicidade. A minha maior angústia era o facto do ser humano ser tão ocupado ao ponto de não entender que se o tempo for bem dividido conseguimos fazer tudo o que queremos. Sim, com isto também é obvio que me sentia sozinha por não ter uma companhia. Passavam-se os dias e aquele jardim ficava cada vez mais repetitivo. Restava-me deitar-me na relva e pensar… pensar em todos os melhores momentos passados. Chegava a passar horas deitada sem ter capacidade de apreciar a beleza daquele Jardim. Mas, pelos vistos, não era a única. Um dia, deitada e envolvida no meu pensamento, senti um toque suave no meu braço, não percebia quem poderia ser, contudo, não consegui abrir os olhos. Esse toque foi-se prolongando até meu rosto. Tinha vontade de abrir os olhos e retribuir todo aquele carinho… decidida a fazê-lo comecei, muito devagarinho, por retribuir um pequeno e suave toque na mão. Era uma pele lisa. Comecei a abrir os olhos e, qual não foi o meu espanto quando não vi ninguém à minha volta. Senti-me revoltada porque tinha acabado por adormecer e sonhar com toda aquela história mas, ao mesmo tempo sentia-me feliz por aquele belo sonho. O parque voltara a ter uma beleza só que, desta vez, oculta. Voltava a frequentá-lo, a deitar-me e pensar… Voltei a criar uma vida de plenitude. Via estrelas, constelações, galáxias e tudo o que pudesse existir. Aquela relva onde me deitava junto à maior árvore do Jardim passou a ser o ponto de encontro entre mim e o meu subconsciente. No entanto, deixou de ser unicamente com o meu subconsciente. Aquele toque, aquela pele macia e lisa volta a tocar-me no braço passando-se tudo o que eu, supostamente, teria sonhado. É claro que desta vez tinha ainda mais medo de abrir os olhos porque poderia ser novamente um sonho. E se fosse? E se não fosse? A indecisão invadia-me e travava uma luta com a curiosidade. Abri os olhos, a curiosidade tinha ganho. Vi um olhar que me encantou e senti uns lábios tocarem na minha testa. Desde esse dia, ia todos os dias ao parque… Corríamos juntos e contávamos histórias ou anedotas um ao outro, víamos as nuvens e as estrelas e vivíamos cada minuto como se fosse uma hora aproveitando todos os pequenos gestos e palavras. Houve o primeiro abraço, o primeiro beijo e as primeiras palavras de amor. E, no fim de tudo, uma bela vida de amor e felicidade. Nunca deixei de visitar aquele Jardim e recordar todos os momentos que passei, as histórias que ouvi, as corridas que fiz e os pensamentos que tive deitada junto àquela grande árvore na relva. Todo aquele Jardim ganhou o valor que lhe dava inicialmente ou talvez mais…

Joana Correia »










 

(A carta de uma praxe, feita pela minha caloirinha :') Lembro.me bem do primeiro dia em que escrevi sobre ela.. Lembro.me de ter certas expectativas sobre ela.. Hoje, e todos os dias, ela relembra.me que essas expectativas foram superadas. Relembra.me com os seus actos, relembra.me por ser 'tão' ela.. A Minha Afilhada :') <3 Orgulho ! )

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