sexta-feira, 17 de setembro de 2010

« - Repara, se o golo tivesse sido válido, todo o resto do jogo teria sido diferente. Teria sido outro jogo. Portanto, não há maneira de saber como acabaria.
- O resto do jogo não teria sido necessariamente diferente - contestou Nani.
- Teria sim. Se introduzes uma variante no presente alteras irremediavelmente o futuro. » Tiago rebelo.

E foi fantástico este livro :) Em cada capítulo dava vontade de ler o próximo e o seguinte e o sgeuinte sem parar :) E agora ouço muito falar no segundo livro de Carlos Ruiz Zafón e tal como o meu priminho me tinha aconselhado à uns meses, cá vou eu ler O Jogo do Anjo. Aliás, El Juego Del Angel já que o raio do meu primo só o tem em Espanhol -.-' Que aventura -.-'

«(…) Se me dissessem que escrevia ficção sentia-me insultado: ficção que tolice, é o mundo inteiro que a gente mete entre as capas de um livro. Vende menos? Decerto, mas há-de vender sempre. Se tivermos lado a lado, à nossa frente, Camões e o jornal, a tendência imediata é pegar no jornal, mas o jornal desaparece amanhã e Camões fica. Chamo jornalismo, explicava Gide, ao que é menos interessante amanhã do que hoje. E depois a Arte não é um desporto de competição: o editor que ponha numa cinta, por exemplo, cem mil exemplares vendidos, ou julga falar de sabonetes ou não é um editor. Se o livro for bom há-de vender muito mais do que isso: quanto terá vendido Ovídio até hoje? É apenas uma questão de tempo, porque os bons leitores existirão sempre, ainda que poucos. O que me aborrece na Arte são os comerciantes que giram em volta dela, sem lhe tocar, porque tiram o seu alimento do efémero. Faz pouco comecei uma biblioteca na empresa onde estou. Tolstoi foi o primeiro: ao receber o livro impresso reparei que as últimas três páginas eram propaganda a lixo. Como se pode, no fim de um livro de Tolstoi, fazer aquilo? Desonestidade? Ignorância? Não faço ideia de quem é o responsável mas devia ter sido fuzilado no berço: Tolstoi de mistura com livros de cozinha e ficções. Recomecei a colecção: até agora não repetiram a indignidade. Pergunta:– Como vão os livros da biblioteca?Resposta:– Pingame ainda bem que pingam. Se vendessem às grosas é que eu ficava alarmado. Os bons livros são para pingar eternidade fora: o Mondego começa gota a gota; a água suja basta virar o balde e encharca-nos. A água do balde acaba logo. O Mondego não tem princípio nem fim. (…)»

António Lobo Antunes, na sua crónica do último número da revista Visão.

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