domingo, 31 de outubro de 2010

A importância dos ‘ses’ ,

« Pois bem, tudo na vida tem um ‘se’ pragmático, presente, premonitório e fatal.
O qual se apresenta muitas das vezes como uma forma de desculpabilização dos nossos actos :
‘se eu soubesse o que ia acontecer…’
‘se eu tivesse feito assim…’
‘se eu soubesse antes…’
‘se eu não tivesse estado lá…’
Este ‘se’, que dirige a nossa vida, actua como se alguém conduzisse a nossa existência e nós nos mantivéssemos como meros espectadores, acabando assim os nossos erros por se deverem ao destino ou a algo que condiciona a nossa existência.
Esta forma fácil de nos desculpabilizarmos torna-nos displicentes na reflexão sobre os nossos actos porque, no fundo, somos um objecto do destino traçado pelos astros ou premonições.
Tudo o que acontece não é culpa nossa e assim nunca somos os gestores, responsáveis pela nossa vida.
É nos povos mediterrânicos que está mais retratada esta perspectiva.
Já os povos nórdicos defendem que é cada pessoa que conduz a própria vida, com objectividade e assumindo as consequências dos seus actos.
Há quem afirme que não conseguimos viver sem ‘ses’ porque deparamo-nos sempre com duas opções, duas escolhas. E temos que ter ainda em conta que a utilização dos ‘ses’ na forma como percepcionamos as nossas experiências pode condicionar as nossas vivências.
Outros dizem também que os ‘ses’ não são um problema sendo sim, sobretudo um reflexo das nossas dúvidas, do género: ‘vou dar ao meu instinto uma hipótese’. O que seria da vida humana, quando tudo estivesse certo ou garantido? Quando ao ‘clickarmos’ num botão, soubéssemos imediatamente qual a resposta!! Estas pessoas criticam os nórdicos, pois um episódio da vida por mais banal, frio e objectivo que pareça para eles, tem para estas, como latinas, um significado mais importante do ponto de vista emocional. Gostam, adoram, procuram enfim, SENTIR as suas  ansiedades, pois o paladar da vida não tem valor sem a componente emocional. Recusam-se a ser uma máquina, querem ter alegrias sabendo que coremos o risco de ter algumas tristezas. Não querem viver num mundo onde o único defeito é ser-se perfeito.
A verdade é que a coragem e determinação falta a estas pessoas e, assim, num acto de alguma cobardia, estas saem ilesas, sem uma mácula sequer, das várias situações que elas próprias, a maioria das vezes, criaram ao esconderem os seus actos por trás de inúmeros ‘ses’.
No entanto chega de desculpas, de ‘condicionalismos’, de fatalidade, pois toda a gente reconhece que as pessoas possuem poder de decisão, são livres de mandar na sua vida e nela tomar as responsabilidades das consequências dos seus actos.
Será que conseguimos viver sem ‘ses’? Devemos fazer tudo por tudo para que viver num mundo sem ‘ses’ seja o nosso lema de vida. Não obstante de queremos ter alegrias e correr riscos quando não temos nada a perder. Seria hipócrisia minha dizer que acho que todos os Homens poderão viver num mundo sem ‘ses’. Pode parecer que sou irrealista, ou que não quero ver aquilo a que podem chamar possibilidade, mas para mim não é opção haver um ‘se’ após termos agido e só aí pensarmos nas consequências de tais actos, isso seria um fim no nosso carácter.. Do meu ponto de vista devemos ter muita qualquer-coisa-como-que-sorte, sim, porque eu não acredito em tal coisa como sorte ou azar e assim ir em busca dos nossos momentos fazendo as nossas opções onde não há lugar para ‘ses’. Pois em vez de pensarmos que seríamos felizes se.. devemos sim pensar em formas de alcançar os nossos objectivos, de acabar com a guerra, de pôr fim à pobreza e ao viveiro de miséria onde habitamos e não ficar parados pensando apenas e imaginando o que poderíamos ter feito num mundo onde os dias são a principal partícula de tempo, e nós temos que nos singir a elas. Temos que partilhá-los com quem mais gostamos, pois o que resta desses dias são pó e memórias. Mesmo deste segundo que acabou de passar, mesmo desta fracção de segundo tudo o que resta são memórias. E nessas memórias permanecerá para sempre o que na verdade aconteceu e não o que poderia ter acontecido se..
Tal como o barco é comandado pelo seu capitão, tal como a empresa é gerida pelo seu presidente, também a vida tem que ser comandada pela própria pessoa que tem que ter uma atitude firme, segura e de responsabilização pelos seus actos onde o ‘se’ não é desculpa. Somos seres que racionalizamos e agimos, devemos ter coerência e definir prioridades, concretizar os nossos ideais e avaliá-los. Não ficando parados no tempo a meditar como estaríamos se tivéssemos agido de outra maneira mas sim meditar em novas etapas a alcançar.
Devemos correr riscos e experimentar novas experiências e não ficar empatados no tempo a pensar se.. pois a filosofia não se faz de ‘ses’. A filosofia vive-se e sai da experiência de cada um. »

Ensaio Filosófico - Maio de 2006


Sem comentários:

Enviar um comentário

Seguidores