domingo, 26 de agosto de 2012

Ser fisioterapeuta ..

 
 
E se há alturas em que uma das poucas certezas que tenho é que estou no curso certo, a aprender aquilo que gosto, a lidar com aquilo que quero e a vivenciar e actuar perante aquilo que me deixa concretizada, há alturas em que surge um grande ponto de interrogação perante todos estes ideais.
Por vezes sinto-me tão pequenina ao lado da imensidão dos problemas dos outros, que não sei mesmo se algum dia vou conseguir fazer parte da solução de alguns deles..
A recompensa acredito que supere tudo e te encha de ânimo para continuar e, acima de tudo, te deixe repleto de felicidade por ver alguém também feliz.. Por saberes que estás a dar um sorriso a um filho, uma esperança a uma mãe, um passo em frente na felicidade (por vezes abandonada ou esquecida) de uma família. Mas, por vezes também remói bem cá dentro.. É o estares atento a cada milímetro de dorsiflexão plantar, se cada movimento impreciso te causa ou não uma breve flexão do joelho, se consegues fazer um apoio de calcanhar preciso, se no dia seguinte consegues fazer uma transferência de peso mais concreta, se uma semana depois consegues dar um passo na imensidão do ginásio vazio.. É o fixares-te em milésimos de movimentos, em músculos, articulações, ossos, ligamentos e tendões que nem sempre reagem como tu queres, com a rapidez e eficácia com que tu queres. É o conseguires controlar o teu movimento mas o teres uma dificuldade tremenda em controlar o movimento descontrolado do outro.. É o lidares de perto com o desânimo, a angústia, a frustração.. O abandonares de todas as técnicas e dedicares sessões à conversa, o dares a mão, o teres um colo pronto a amparar qualquer desalento.
Ficas com a lágrima no olho, sentes também tu a frustração na pele, o não teres conseguido desta vez.. Até que, no dia seguinte, te podes deparar com uma força enorme vinda nem tu sabes bem de onde, se de todo o aglomerado de músculos e forças instrínsecas, se vinda de algo mais interior.. E aí, é a lágrima no olho por sentires que milímetros de extensão do tronco durante um simples exercício lhe permitem alcançar a tua testa, o aguentar dos membros superiores contra a gravidade que lhe permitem contornar o teu pescoço e o aumento induzido da flexão do tronco fazem com que encoste os seus lábios na tua testa, deixando um gesto de agradecimento.. São as lágrimas nos olhos por, minutos depois, conseguires ir mais além na extensão do tronco, teres força para amparar o outro, conseguires-te erguer e ajudar a erguê-lo e vê-lo chorar de felicidade ao deambular pelo ginásio..
É a sensação de dever cumprido. Cumprido, por hoje. E a sensação de que muito poderá vir, amanhã..
 
Há sorrisos e gestos que nos enchem a alma e nos fazem sentir completamente preenchidos!

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