quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

' Distúrbios Alimentares

Num destes dias, entrei no quarto da mãe e vi um livro na mesa de cabeceira que me chamou à atenção.. Ali só costumava haver a revista Teleculinária deste mês, do mês passado e de muitos outros meses passados e a mãe não achava grande piada pegar num livro e lê.lo de inicio ao fim.. Queixava.se do sono que aquilo lhe trazia já para não falar dos olhitos que piscavam depois de ler meia dúzia de linhas.. E agora, estava ali mesmo à minha frente um livrito com um marcador que indicava a leitura já estar quase no final.. «Sem Ti, Inês».. Não conhecia o título, não conhecia a autora.. Era o depoimento de uma mãe, de uma família de luto, que havia perdido a filha que não resistiu à anorexia nervosa..


.. Ali, tudo era escuro.. Apesar da claridade que entrava pelas persianas do quarto quando eram subidas pela manhã, nada se comparava ao Sol radiante que havia lá fora. Por muita luz que entrasse, tudo parecia escurecido.. Era o quarto, eram os corredores, eram os próprios sorrisos das pessoas mesmo que dessem o seu melhor..
Era um corpo estranho, uma mente confusa, ideias perdidas e à solta mas que não a largavam nem por nada. Eram objectivos cumpridos e momentos de vida perdidos. Era o cheiro fétido a hospital, o sentimento de prisão e a revolta por não ter conseguido. Não por não ter conseguido resistir à doença, mas por não ter conseguido ir mais longe com ela.. Os nossos olhos apenas veêm o que o nosso cérebro quer.. E esse, queria sempre mais e mais.. Mesmo que esse mais lhe trouxesse menos horas de vida.
Era que nem uma droga.. No inicio, julgava ter todo o controlo sobre si e sobre o seu próprio organismo. No final, havia perdido o controlo sobre a sua própria vida.

23 de Dezembro de 2004..

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